28 de abr. de 2014

your sex takes me to paradise [part one]


Ela teve um namorado mais velho. Ele era não muito alto, usava roupas nada convencionais, não era do tipo que se importava com beleza, admirava a inteligência dela, seu corpo robusto e seu rosto singular. Ela tinha cabelos pretos, longos e sedosos. Se importava com sua aparência de maneira doentia, evitava se olhar no espelho. O único espelho que tinha, ou melhor, pedaço de espelho, era o que se encontrava em seu banheiro e que ela usava apenas para escovar os dentes ou passar batom. Tinha amigos, mas não conseguia manter as amizades de forma duradoura. Não gostava de sair, porém qualquer viagem típica de mochileiro que aparecia, ela estava junto. Falava diversas línguas, porém abandonou a faculdade por não conseguir se concentrar em nada. Quando criança era a melhor da turma, e a queridinha dos professores, lógico, não tinha uma opinião formada sobre nada, nem sobre ninguém. Cresceu dentro de uma família extremamente tradicionalista, que não aceitava shorts curtos, sexo fora do casamento, entre outras coisas. Quando completou 19 anos, em uma viagem pra Indonésia, resolveu não voltar mais para casa, de lá mesmo ela movimentou suas economias e decidiu comprar um apartamento bem simples, de um cômodo, mas que fora decorado a seu modo. Ou seja: uma cama, muitos livros, dois pares de xícaras e o suficiente pra se vestir, se alimentar e se manter. A partir daí, não manteve mais nenhum contato com seus pais, e familiares. Alguns de certa forma, até imaginavam que um dia isso poderia acontecer. Se virava pra conseguir dinheiro: cuidava de bebês, trabalhava em lanchonetes, dava banho em cachorros, e as vezes escrevia pra pequenos editorias que pagavam micharias por seus manuscritos. Era sempre muito quieta, usava poucas palavras. Costumava mostrar-se boazinha, mas quando perdia a paciência, ela ia a beira da loucura e pra ela não havia meio termo. 
Um dia... voltando de um de seus trabalhos temporários, resolveu parar em um bar. Sentou em uma mesa de canto, onde podia ter uma visão ampla do ambiente. Pediu uma vodka. E observava os casais se beijando, amigos conversando, e outras pessoas em que ali se encontravam, mas que como ela, estavam em um mundo totalmente diferente daquele. Ou seja, rodeada de pessoas por fora, mas por dentro completamente sozinha e sem ninguém. O bar era daqueles à moda antiga. Tinha mesas e cadeiras feitas de madeira, porem com um aspecto completamente empoeirado. Cheirava a cigarro. E parecia ser o péssimo lugar para se estar na hora certa. 
Em determinado momento, uma rapaz entrou no bar. Não chamou muito a atenção dela. Mas ele logo a observou. Observou seu rosto, sua expressão apática, sua aparência fora dos padrões, e ele não entendia o porque dela estar sozinha, e chegou até a pensar que ela poderia esperar por alguém. Mas logo esse pensamento fugiu de sua cabeça. Ficou encantado com a forma que ela observava cada passo das pessoas, como absorvia a música que tocava, e como degustava seu drink. Ainda encantado com tal moça, ele dirigiu-se até o balcão do bar, para que ela pudesse notá-lo. Mas mesmo assim, nada a tirava de seu mundo. Ele pediu um drink, tomou em um só gole, e foi até ela. Perguntou se podia sentar. Ela demorou a responder, mas posteriormente fixou seus olhos nele, e balançou a cabeça positivamente. Ela nunca poderia imaginar que alguém pediria pra se sentar na mesma mesa que ela. E mal ela sabia o quão bonita era, o quão inteligente e única poderia ser. Logo, mesmo que não se importasse com roupas, ela usava maquiagens bem pesantes. Seja de dia ou de noite, estava com seu batom vermelho sempre na bolsa. Mas como que uma pessoa que mal se olhava no espelho, poderia usar um batom vermelho? Não se sabe. Gostava de jeans velho, e camisetas de banda. Se vestia bem de acordo apenas com a próxima entrevista de emprego. 
Ele sentou na mesa. Ela continuava a observar as coisas. Ele não sabia o que falar. Os dois se mantinham em silêncio. Até que ela olhou pra ele e riu. Foi o ponta pé pra que se iniciasse uma conversa que durou a noite inteira. Os dois conversaram sobre bandas, viagens, pessoas, política, sobre o drink que tomavam, os casais ao redor, riam, brigavam, até descobrirem que eram vizinhos e que tinham mais coisas em comum do que pensavam ter. Uma surpresa até então, mas que mudaria o curso de suas vidas a partir dali. Ele a acompanhou até em casa. Ela se despediu. Ele tentou beijá-la, mas ela virou o rosto como se pudesse evitar algo que ela não poderia imaginar que acontecesse mais futuramente. Ele insistiu e a beijou no rosto. Um beijo demorado, com o braço dele pela cintura dela agarrando-a forte. Ele dobrou a esquina e ela entrou em casa. 
Dias se passaram, ele a procurou. Foi ate a casa dela, mas ela não estava. Procurou durante dias e ela nunca aparecia. Ele imaginou que ela poderia ter ido a uma de suas viagens repentinas, ou visitar algum parente doente, e imaginou até que ela mesma poderia estar doente. Ele imaginou tudo. Mas ela, ela se mudou. No dia que ele a beijou, ela não parava de pensar nele, na forma que ele a abordou, nos momentos em que os dois partilharam de suas intimidades, no toque das mãos dele na sua cintura, e no cheiro dele. Ela se sentiu invadida, porém um sentimento completamente diferente do que ela tinha sentido antes com outros rapazes, dominava sua mente e seu corpo. Ela sabia que a partir dali, jamais poderia evitá-lo a não ser se ela mudasse de lugar, como quem muda uma peça de xadrez sem antes pensar nas consequências de sua jogada.  
Mas ele não desistiu. Estava encantado, hipnotizado, enfeitiçado, não havia mais adjetivos pra descrever como ele se sentia. Resolveu ir até o bar, todos os dias, na mesma hora que a encontrou no dia em que se conheceram. Não tendo tanto sucesso no que buscava, resolveu que não ia mais voltar naquele lugar, e que ia esquecer a moça que ele tanto desejava. Desejava seus seios, suas pernas, sua silhueta, sua boca. Desejava ter aquele corpo e aquela mulher. Ele passava a noite inteira sonhando com ela, o que evidenciava ainda mais seu desejo. Ficava duro e com muito tesão só de pensar, se por um acaso, tivesse beijado sua boca naquele dia. Aquela boca com lábios grossos e com um batom vermelho parecido com a cor de vinho tinto. Imaginava o que poderia acontecer depois daquele beijo. Tinha os pensamentos que alguns poderiam chamar de mais sujos e insanos, mas que eram completamente sinceros.
Ela era do tipo que queria evitar as regras e os compromissos, e para conseguir liberdade estava disposta a suportar determinadas privações. Para fugir de certas situações, ela aprendeu a nunca chamar atenção para si mesma. Jamais expressava uma opinião, evitava ser o centro das atenções, procurando apagar sua própria existência. Queria viver sozinha, sem a ajuda de ninguém. Mas até então, as coisas estavam indo bem pra ela mesmo não tendo concluído a faculdade, uma carreira profissional, ou um namorado.
Ele continuava frequentando o bar, isso tornou-se parte de sua rotina durante meses. Acreditava jamais encontrá-la novamente. Um dia saindo do bar, a viu passando no outro lado da rua. A abordou novamente. Ela estava com uma blusa que evidenciava o contorno dos seus seios, estava com cabelo comprido e a pele bonita. Ela permanecia em silêncio, enquanto ele queria saber o motivo do seu desaparecimento. Ela não justificou muito, mas afirmou que também pensava nele todas as noites. Eles resolveram ir até o tal bar. Ela pediu água e ele novamente vodka.
A conversa mais uma vez durou a noite inteira. O tempo ficava paralisado quando os dois se encontravam. Ela dizia que sentia medo, se mudou e fugiu. Logo depois, os dois saíram do bar, e foram até a nova casa dela. Usava praticamente a mesma decoração que a antiga, mas agora o ambiente era muito menor e tinha um felino que ela a chamava de Boris. Os dois conversaram ainda mais. Ele a cada segundo, imaginava ela se despindo e se tocando somente pra ele. Um beijo. Dois beijos. Mãos. Língua. Mordidas. Abraços. E mais beijos.
A relação entre os dois parecia ter um significado bem profundo. Ele comandava a maior parte do ato sexual. Ela não precisava pensar em nada, bastava fazer o que ele pedia. Ela sussurrava e gemia no ouvido dele. Vestia um conjunto de roupas íntimas pretas e caprichou no sexo oral, deliciando-se com o pênis duro e seus testículos macios. Ele podia ver os seios dela envoltos no sutiã de renda preta subindo e descendo, acompanhando o movimento da boca dela. Ele ejaculou intensamente dentro da boca dela. Ela esperou ele terminar, foi ao banheiro e enxaguou a boca. Os dois ficaram estáticos e sem nenhuma reação durante alguns minutos.

{continua}...

7 de abr. de 2014

Dazed and Confused



Está na hora de abdicar do medo, da dor e da frustração.
Está na hora de encontrar e rever os amigos, se divertir, cantar e sorrir. 
Está na hora de estender a mão, de perdoar e de abraçar.
Está na hora de ficar confusa, gritar, espernear e pular.
Está na hora de enfrentar obstáculos, vencer e recomeçar.
Está na hora de sentir, fechar os olhos e deixar fluir. 
Está na hora de errar, pecar, enganar.
Está na hora de até mesmo não ligar. 
O tempo é o mesmo tempo aqui e em qualquer lugar. 
Silenciar, sair de cena e esperar que a sabedoria do tempo termine o espetáculo, chega a ser necessário. 
Está mais do que na hora de recomeçar.