5 de dez. de 2010


Será apresentado resumidamente uma visão panorâmica e critica da psicologia contemporânea. Recentemente, começaram a ser elaborados os primeiro objetos de psicologia como ciência independente, só a partir da segunda metade do século XIX surgiram homens que pretendiam reservar aos estudos psicológicos um território próprio. Para criar uma nova ciência é preciso mostrar que ela tem um objeto próprio e métodos adequados ao estudo de um objeto próprio capaz de firma-se como uma ciência independentes das outras áreas do saber.
Na Idade moderna, físicos, anatomistas, médicos trataram de diversos aspectos dos comportamentos involuntários e voluntários do homem, começaram então, a se constituir as ciências da sociedade tratando das suas ações e das suas obras mais importantes para a sociedade.
A situação da psicologia cientifica por um lado reivindica um lugar à parte entre as ciências e por outro, não conseguiu se desenvolver sem estabelecer relações cada vez mais estreitas com as ciências biológicas e com as da sociedade. Isso justifica a posição de Comte de que não há lugar pra uma psicologia independente.
Para que exista um interesse em conhecer cientificamente o “psicológico” é necessário uma experiência muito clara da subjetividade privatizada e também da crise dessa subjetividade. A privatização esta relacionada a um desejo de sermos livres para decidir nosso destino e essa experiência de sermos sujeitos capazes de decisões, sentimentos e emoções só se desenvolve, se aprofunda e se difunde amplamente em uma sociedade com determinadas características.
A partir dessa experiência da subjetividade privatizada surgem questões como: quem sou eu, como sinto, o que desejo, o que considero justo e adequado?. O homem descobre portanto, que é capaz de tomar suas próprias decisões e que é responsável por elas, tendo como conseqüência o desenvolvimento da reflexão moral e do sentido da tragédia. É também numa situação como esta que os homens são levados a se questionar acerca de que é certo e do que é errado e a procurar na sua própria consciência uma resposta para essa questão.
O renascimento foi uma período muito rico em variedade de formas e experiências e de produção intensa de conhecimento. O homem viu-se obrigado a escolher seus caminhos e arcar comas conseqüências de suas opções, sendo assim, houve uma valorização cada vez maior o do homem, que passou a ser pensado como centro do mundo e o mundo passou a ser considerado cada vez menos como sagrado e mais como objeto de uso. Por conseqüência dessa grande valorização e confiança no homem, nasceu o humanismo moderno.
Os estudo sobre a modernidade costuma identificar como seu ponto de partida o pensamento de Descartes, o fundador do racionalismo moderno. Descartes pretende estabelecer as condições de possibilidade para que obtenhamos um conhecimento seguro da verdade, portanto, somente idéias absolutamente claras e distintas poderiam ser consideradas verdadeiras e servir de base para a filosofia e as ciências. 
Francis Bacon, pode ser considerado como o fundador do moderno empirismo, a diferença entre Bacon e Descartes era que para Bacon a razão deixada em total liberdade pode-se tornar tão especulativa e delirante que nada do que produza seja digno de credito. Hume, chega a negar que o “eu” seja algo estável e substancial que permaneça idêntico a si mesmo ao longo da diversidade de suas experiências. Kant, procura opor-se a essa formulações tão radicais, mas aceita a problematização da crença em conhecimentos absolutos.
O século XVIII trouxe outras formas de critica às pretensões do “eu”, da razão universal e do Método. O romantismo nasceu no final do século XVIII como uma crítica ao iluminismo, ou seja, à idéia cartesiana de que o homem é essencialmente um ser racional é contraposta a idéia de que o homem é um ser passional e sensível. Assim, o romantismo é um momento essencial na crise do sujeito moderno pela destituição do “eu” de seu lugar privilegiado de senhor soberano, por outro lado, o romantismo traz a experiência de que o homem possui níveis de profundidade que ele mesmo desconhece, havendo uma grande valorização de individualidade e da intimidade.
Nos séculos XVIII e XIX a ideologia liberal iluminista e o romantismo se tornaram duas formas de pensamento que refletem muito as experiências da subjetividade privatizada numa sociedade em desenvolvimento. Tanto na Ideologia Liberal como no romantismo se expressam os problemas da experiência subjetiva privatizada: segundo a ideologia liberal, todos são iguais, mas tem interesses próprios; segundo o Romantismo, cada um é diferente mas sente saudade do tempo em que todos viviam comunitariamente e espera pelo retorno desse tempo.
Quando a subjetividade privatizada entra em crise descobre-se que a liberdade e a diferença são, em grande medida, ilusões, quando se descobre a presença forte, mas sempre disfarçada, das disciplinas em todas as esferas da vida, inclusive nas mais intimas e profundas. Os interesses particulares levam a conflitos e quando os homens passam pelas experiências de uma subjetividade privatizada e ao mesmo tempo percebem que não são tão livres e tão singulares quanto imaginavam, ficam perplexos.
Será mencionado agora alguns dos projetos de psicologia como ciência independente. A começar com Wundt, a psicologia para ele era uma ciência intermediaria entre as ciências da natureza e as ciências da cultura, o objetivo da psicologia é, para Wundt, a experiência imediata dos sujeitos. A dificuldade de Wundt era a de entender como mente e corpo se ligavam uma à outra em uma unidade psicofísica – o homem. Sendo assim, ele acaba criando duas psicologias: a psicologia fisiológica experimental e a psicologia social ou “dos povos”, cuja preocupação é exatamente a de estudar os processos criativos em que a causalidade psíquica aparece com mais força.
Depois de Wundt inúmeros autores tentaram colocar a psicologia no campo apenas das ciências naturais. Titchener redefine a psicologia como sendo a experiência dependente de um sujeito. Tichener não nega a existência da mente, mas esta perde sua autonomia: depende sempre e se explica completamente em termos do sistema nervoso; também defende a posição denominada paralelismo psicofísico, em que os atos mentais ocorrem lado a lado a processos psicofisiológicos.
Em oposição à psicologia ticheriana, surgiu nos EUA o movimento da psicologia funcional definindo a psicologia como uma ciência biológica interessada em estudar processos, operações e atos psíquicos como formas de interação adaptativa. Para os psicólogos funcionalistas, o objeto da psicologia são esses processos e operações mentais, mas o estudo cientifico desses processos exige uma diversidade de métodos. Em compensação, se os processos e operações mentais expressam em comportamentos e estes são facilmente observáveis, pode-se estudar indiretamente a mente a partir dos comportamentos adaptativos.
No começo do século XX nasce um outro projeto de psicologia cientifica: o comportamentalismo. Segundo esse projeto, o objeto da psicologia cientifica já não é a mente e sim, o próprio comportamento e suas interações com o ambiente. O método deve ser o de qualquer ciência: observação e experimentação, mas sempre envolvendo comportamentos publicamente observáveis e evitando a auto-observação.
O comportamentalismo foi criado com base em muitas das posições defendidas por aquelas mesma correntes que, de uma certa forma, criaram as condições favoráveis para seu desenvolvimento. Com o comportamentalismo, os estudos psicológicos a experiência imediata não era mais considerada. Nessa medida, o sujeito do comportamento não é um sujeito que sente, pensa, decide, deseja, e é responsável por seus atos: é apenas um organismo.
O comportamentalismo watsoriano interessa-se exclusivamente pelo comportamento observável, com o objetivo muito prático de prevê-lo e controla-lo de forma mais eficaz. Ainda no começo do século XX surgiu outro projeto de psicologia cientifica e denominou-se psicologia da gestalt. Os gestaltistas partiam da experiência imediata e adotavam, como procedimento para captação da experiência tal como se dava ao sujeito, o método fenomenológico.
Skinner desenvolve um novo projeto de psicologia cientifica. Embora se trate de um comportamentalismo, o projeto de Skinner afasta-se imensamente do de Watson, sendo um erro absurdo reuni-los numa mesma analise. Skinner torna-se importante para a psicologia quando se põe a falar da subjetividade: do mundo privado das sensações, dos pensamentos, das imagens, etc. Skinner não rejeita a experiência imediata, mas trata de entender sua gênese e sua natureza. O projeto de psicologia skinneriano pode ser, então, caracterizado como o do reconhecimento e critica da noção de experiência imediata a partir de um ponto de vista social.
A perspectiva de estudar a gênese do sujeito, levando em consideração sua experiência imediata, une Piaget e Freud. Ambos partem em suas teorizações de certos pressupostos biológicos, mas em nenhum dos casos a experiência imediata dos sujeitos é reduzida a seus condicionantes naturais. Piaget, estuda o desenvolvimento das funções cognitivas, ele observa o comportamento de crianças e pede a elas que descrevam o que estão fazendo; pede, também que justifiquem o que e como estão fazendo. Seu objetivo é, antes de tudo, tentar entender a experiência imediata das crianças, como elas vivem, percebem e pensam sobre o mundo.
Enfim, a psicologia esta hoje, como desde o inicio, dividida entre diferentes linhas de pensamento. As psicologias convertem-se quase sempre numa visão de mundo altamente subjetivista e individualista. Com isso, as teorias psicológicas que não se restringem à experiência imediata da subjetividade individualizada tem se tornado uma forma de manter a ilusão da liberdade e da singularidade de cada um, em vez de compreender e explicar o que há de ilusório nessas idéias.